Tim Cook, o bom aluno

Em 1998, Steve Jobs contratou-o para o cargo de diretor de operações de produção. Nessa altura, era provavelmente um dos cargos executivos mais difíceis nas companhias cotadas em Wall Street. A Apple estava num impasse - e as ações não paravam de desvalorizar. Aos sinais de declínio, juntava-se o génio de Jobs, que tinha fama de triturar os subordinados que não apreciava.

Nada disso terá intimidado Tim Cook, que até à data da primeira entrevista com Jobs nunca tinha pensado trabalhar na Apple. Mas a verdade é que aceitou o convite quando já tinha uma carreira cimentada na toda poderosa Compaq (e anos antes na IBM).

Rezam as crónicas que a primeira reunião entre Cook e Jobs não poderia ter corrido melhor: o líder da Apple ficou impressionado com Cook, e Cook não se terá impressionado com o difícil génio de Jobs. No final, Cook não se importou de embarcar numa marca de futuro incerto; e Jobs tinha descoberto alguém capaz de superar a "prova da entrevista".

Em comum com Jobs terá apenas a capacidade de trabalho.

Entre elogios e queixas, há quem lembre uma certa predisposição para trabalhar às 4h30; e há também quem aponte o hábito de interromper serões de domingo com conferências telefónicas que servem para preparar a semana. Ninguém o apelidou de visionário; mas há quem diga que tem a fiabilidade de um relógio suíço.

Nascido em Alabama, Tim Cook é descrito, aos 50 anos, como pessoa metódica, cordial, calma e reservada, que gosta de futebol americano e faz visitas assíduas ao ginásio. Sempre foi bom aluno, tendo participado em bandas escolares e liderado uma associação que apoia estudantes aplicados.

À primeira vista, Jobs e Cook teriam tudo para se votarem ao desprezo, mas foi esta dupla improvável que alcandorou a Apple ao título de marca mais valiosa do mundo. Steve Jobs sempre foi o rosto da Apple, e sempre recolheu os louros, mas basta uma pequena pesquisa para confirmar que o renascimento da companhia teve o dedo de Cook, o homem que simplificou circuitos de fornecimento e fechou fábricas para superar perdas de mil milhões de dólares em 1997 e chegar ao lucro em 1998. O feito inicial terá bastado para merecer o respeito do líder e, em 2000, valer-lhe a promoção a diretor de operações (COO). Em 2004, estreia-se como CEO interino na primeira das três baixas médicas de Steve Jobs.

Hoje, quase ninguém se surpreende com a nomeação de Tim Cook para CEO. E aos poucos que ainda duvidam das suas capacidades, resta lembrar as declarações prestadas à Reuters por um ex-subordinado, que preferiu o anonimato: "Ele não só sabe tudo sobre o que faz, como também sabe tudo o que os outros andam a fazer".

Texto publicado na edição do Expresso de 8 de outubro de 2011

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